quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Jornadas da Litúrgia, Arte e Arquitectura





 “Para todos vós, agora, artistas, que sois prisioneiros da beleza e que trabalhais para ela: poetas e letrados, pintores, escultores, arquitectos, músicos, homens do teatro, cineastas . . . A todos vós, a Igreja do Concílio afirma pela nossa voz: se sois os amigos da autêntica arte, sois nossos amigos.
Desde há muito que a Igreja se aliou convosco. Vós tendes edificado e decorado os seus templos, celebrado os seus dogmas, enriquecido a sua Liturgia. Tendes ajudado a Igreja a traduzir a sua divina mensagem na linguagem das formas e das figuras, a tornar perceptível o mundo invisível.
Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para vós. E diz-vos pela nossa voz: não permitais que se rompa uma aliança entre todas fecunda. Não vos recuseis a colocar o vosso talento ao serviço da verdade divina. Não fecheis o vosso espírito ao sopro do Espírito Santo.
O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração. E isto por vossas mãos.
Que estas mãos sejam puras e desinteressadas. Lembrai-vos de que sois os guardiões da beleza no mundo: que isso baste para vos afastar dos gostos efémeros e sem valor autêntico, para vos libertar da procura de expressões estranhas ou indecorosas.
Sede sempre e em toda a parte dignos do vosso ideal, e sereis dignos da Igreja, que, pela nossa voz, vos dirige neste dia a sua mensagem de amizade, de salvação, de graça e de bênção.”
(mensagem do Papa Paulo VI, aos artistas, na conclusão do Concílio Vaticano II)

Neste ano, em que se assinalam os cinquenta anos do Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, a Universidade Católica Portuguesa, de Lisboa, tomou a iniciativa de realizar, a 15 e 16 de Novembro, as Jornadas de Litúrgia, Arte e Arquitectura, que reuniu no mesmo auditório padres, cardeais, arquitectos, estudantes e outros, na tentativa de se fazer diálogo entre a litúrgia, a arquitectura e a arte em ambiente de Igreja.
 No Painel 1 destas Jornadas, propunha-se que, à luz do Concílio Vaticano II, se analisásse a litútgia no contexto conciliar, o espaço litúrgico enquanto identidade da Igreja e a litúrgia no plano pastoral, tendo como exemplo a comunidade da Serra do Pilar. Para debater estes temas estiveram presentes Frei Bento Domingues (op. Teólogo), o Padre João Norton de Matos (doutorando Centro Sèvres) e o Padre Arlindo Magalhães (Teólogo, UCP Porto). O Painel 2, confrontou a litúrgia com a arte, tendo como conferencistas o Curador Paulo Pires do Vale (UCP Lisboa), o Padre Joaquim Félix (Liturgista, UCP Braga) e, ainda, o Cardeal italiano Gianfranco Ravasi (Pontifício Conselho para a Cultura) que nos veio falar da retoma do diálogo entre a Igreja e a Arte. O Painel 3, apresentou-nos a arte no contexto arquitectónico pelos olhos do Arquitecto italiano Glauco Gresleri (Universidade de Pescara), do Arquitecto João Alves da Cunha (Doutorando FA-UTL) e do Arquitecto Bernardo Miranda (CIES-ISCTE, doutorando FA-UP). A fechar este ciclo de conferências, no Painel 4, debateu-se o futuro destes três grandes temas Litúrgia, Arte e Arquitectura, com conclusões do Padre Manuel Pereira da Silva (Liturgista. UCP Lisboa), do Historiador de Arte Marco Daniel Duarte (Museu do Santuário de Fátima) e do Arquitecto Diogo Pimentel (SNIP). Para terminar, uma nota breve do Cardeal Patriarca D. José Policarpo que nos falou acerca da actualidade do Concílio Vaticano II.
Ao longo dos dois dias foram debatidos pontos de grande relevância e, decerto, muito ficou por dizer. Penso que é muito importante que cada um “perca” um pouquinho do seu tempo a confrontar estes assuntos e que, realmente, cresça nesse confronto. Era esta a minha expectativa para estas Jornadas, “perder” tempo a debater três pontos da minha vida: a litúrgia, enquanto cristã e membro activo na minha comunidade, e a arte e a arquitectura, enquanto estudante destas áreas. Portanto, resumo estas Jornadas como um grande três em um.
Enquanto vivência de Igreja, há a reter o facto de que a Igreja celebra e vive a litúrgia e que é Cristo o centro da litúrgia e, em torno deste facto, gera-se o rosto da Igreja que se reconhece como povo de Deus, como nos diz o documento Lumen Gentium. Nesta questão do povo de Deus, entra a noção de Comunhão, sustento da Eucaristia, vista como espaço litúrgico. Então a própria litúrgia é espaço. Espaço de oração, espaço de relação. É, portanto, neste espaço de relação, que a assembleia se reúne. E, se no contexto de arte, vimos como é importante que o espectador participe na obra, se adentre nela e se sinta nela, então é isso que também é importante quando se fala de litúrgia. É importante que a assembleia participe, se adentre e se sinta nesse espaço litúrgico de encontro e de oração. Isso é-nos ilustrado na primeira imagem. É uma imagem muito corrente que descobri ser uma obra importante. Os espectadores foram remetidos para uma sala vazia com paredes brancas e foi-lhes pedido que escrevessem na parede, à sua altura, o seu nome. A este tipo de obra, chamamos Happening. É um tipo de obra que incorpora espontaniedade e improvisação, que nunca se repete da mesma maneira. É assim, que é importante que se viva a litúrgia de uma forma espontânea, que vivamos nela e que ela não se repita em nós da mesma maneira, mas sempre de forma mais apaixonada porque a litúrgia é o visível do invisível, é a Igreja e a Igreja é a preseça da acção de Cristo no mundo de hoje. E, tal como é importante que se olhe a arte com contemporaneidade, ou seja, dar vida à própria arte e ter o desejo que a arte faça parte da vida, também é importante que se dê desta contemporaneidade à litúrgia e à vivência em Igreja.

No concreto da arquitectura, importa que o espaço interior de uma igreja seja espaço de litúrgia nova, não adianta que o espaço exterior seja moderno se o interior continuar igual. E isto, é assim também pessoalmente, que adianta que o nosso exterior seja “moderno”, que adianta que mostremos algo que depois o nosso interior não é? É como nos mostra o cartoon. Tentamos perceber o que uma obra representa, mas nunca nos questionamos acerca do que é que nós próprios representamos.
Quando é necessário repensar um lugar para a litúrgia, não significa que esse repensar, esse requalificar o espaço lhe mude o caracter. Há uma dimensão construtiva na Igreja, que não são a pedra nem o tijolo, mas sim as pessoas! Quando um Homem põe um chapéu, o chapéu é a cobertura e o Homem é a própria casa. Quando há um circulo de Homens debaixo de um chapéu, cada Homem torna-se pilar. Além de Homens são cidade, são comunidade. É isso que é ser a Igreja. Para haver esta dimensão construtiva na Igreja, feita de pessoas, é necessário fazer aquilo que um dos arquitectos registou como “ressourcement”, uma refontalização, um regresso às fontes, à fonte que é Cristo que nunca parou de jorrar. Cada um, que vive em Igreja, não faz arquitectura para o outro. Enquanto Igreja, fazemos arquitectura para o nós, porque lembramos Cristo, que veio para servir e não para ser servido. É assim que é feita a experiência do povo de Deus. 


Tesouro


“Palha que o vento levou”, dizia o Salmo da manhã, porque necessito que o vento leve o que já não faz falta em mim. Leve o meu egoísmo, o meu orgulho, a minha falta de confiança, a insegurança, a cobardia. Para ficar sossegada e tranquila, capaz de confiar, capaz de que o “tudo” seja a medida da fé. Faz-me, Senhor, paciente e humilde e, nas vezes em que me sinto amada seja também capaz de me amar e aceitar como Tu me amas e aceitas, mesmo  no meu pouco eu. Faz-me observadora dos lugares e dos sinais do Teu amor,  da Tua verdade, da Tua beleza, da Tua vida, porque só em Ti cada noite se renova em bela manhã e ao sol sucede a lua. Porque só em Ti, o vazio de uma parede branca, a lembrar o sem resposta, ganha sentido, porque só o Teu regaço é colo de Pai e só o Teu olhar vê o meu invisível.
Ensina-me a procurar-Te bem, nos lugares onde Tu me falas, para que nesse Encontro eu possa encontrar-me, para que na Tua luz eu consiga ver luz e, nessa luz, ilumine cada novo passo.
Levanta-me como ao coxo, da minha miséria e do meu mendigar. Esvazia-me e enche-me, sê o meu tesouro.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Salmo 8

Ó SENHOR, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra!
Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus.
Da boca das crianças e dos pequeninos
fizeste uma fortaleza contra os teus inimigos,
para fazer calar os adversários rebeldes.
Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos,
a Lua e as estrelas que Tu criaste:
que é o homem para te lembrares dele,
o filho do homem para com ele te preocupares?
Quase fizeste dele um ser divino;
de glória e de honra o coroaste.
Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos,
tudo submeteste a seus pés:
rebanhos e gado, sem excepção,
e até mesmo os animais bravios;
as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que percorre os caminhos do oceano.
Ó SENHOR, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Peregrinação "Ad Intra"



"Peregrinar não é simplesmente caminhar ou passear, apreciando a paisagem ao sabor das circunstâncias e correntes. Peregrinar implica, antes de mais, partir, sair de si e das suas circunstâncias, de algum modo desgarrar-se e separar-se para poder andar. Mas não basta: o peregrino tem um objectivo, uma meta a alcançar. Sabe de antemão aonde quer chegar e, por isso mesmo, apesar de aberto ao imprevisto e à aventura, procura conhecer, pesando as circunstâncias e as forças, qual é para si o itinerário, o caminho mais adequado. O peregrino espera, portanto, chegar à meta, ao termo e é essa esperança de lá chegar que o faz andar e, apesar do cansaço, não o deixa desfalecer."
Pe. António Vaz Pinto, SJ

Esta peregrinação Passo a Passo teve este sabor ao partir de mim própria, com uma meta de ir mais ao fundo, ao fundo das questões em mim mesma e com um itinerário de oração sempre presente, interior e exteriormente na natureza, na paisagem, no outro que caminha ao meu lado.
Este caminho físico que já se torna habitual peregrinarmos faz lembrar, realmente, o caminhar por caminhos desertos com o olhar no alto, no Pai e caminhar de braços abertos como que a absorver tudo, a deixar-nos encher e apaixonar por cada passo que deixamos os nossos pés de barro pisar com amor.
Interiormente, este caminhar levou quase à oração do despojamento do que sou e de quem sou e "aqui me tens, Senhor...", "enquanto quiseres, como quiseres...". E isto, leva, essencialmente, ao primeiro passo: "O que me trouxe aqui?". É sempre cedo para responder a esta questão, mas com certeza foi porque Deus me quis, que eu ali estava a caminhar, a tentar levar este ritmo e esta ordenação de espaços e de momentos para a minha rotina e vida quotidiana.
"O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça", nós Homens ao caminharmos juntos apercebemo-nos de tantos que caminham a nosso lado, apercebemo-nos da presença do outro, na sua sombra, na mão estendida para nos apoiar, para não nos deixar cair. No silêncio de alguns passos, quando entramos profundamente em nós vimos quais são os nossos "tudo menos isso" e às vezes é preciso distanciarmo-nos dos nossos "tudos" para perceber qual é afinal o lugar central das nossas vidas ou como queremos que esse lugar seja ocupado.
Fazer este caminho pela terceira vez levou-me a perceber dois grandes momentos. Em primeiro, as minhas limitações, os meus "tudo menos isso" que me impedem de ser santa, de ser o pecador em busca do melhor de si mesmo. E um segundo momento, o momento de dar graças pela vida e pela existência, pelas dificuldades tal como elas são, com as subidas, os obstáculos, os desiquilíbrios e perceber que existe em mim este "centro desviado" que é Cristo e a Sua vontade para a minha vida.
Entrar no Santuário de mãos dadas com os santos concretos da minha vida é agarrar Aquele que me dá vida e me renova todos os dias, é ter presente que mesmo nas minhas falhas, mesmo na minha vergonha, naquilo que há de mau em mim, há também uma nesga de esperança que continua a fazer caminho.
Este caminho que se trilha e esta descoberta que se faz de Deus no outro e Deus em mim que levo ao irmão e que o ajuda a caminhar ou o "peso" que sou na vida do outro é algo que tem de ter consequência prática na minha vida. É preciso haver este discernimento dos tempos e dos espaços e perceber que tudo brota duma relação com Deus que se alimenta na vida pessoal. A esta relação chamamos fé. E nada melhor que iniciar este ano da fé com um peregrinar com esta direcção e sentido, de nos unirmos mais ao nosso Pai e Criador. E é nesta liberdade humana de se fazer caminho ou não que vamos dando sentido ao sem sentido das nossas vidas.
Que neste ano da fé saibamos isto mesmo, dar sentido ao sem sentido, como o próprio Cristo deu sentido à cruz e à morte. É pela fé que nos salvamos, tenhamos a coragem de iniciar este processo de salvação e de santidade nas nossas vidas e saibamos acolher nos nossos corações Aquele que reinvidica ser o Filho do Homem.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Chamo-Te



Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que não quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.

Sophia de Mello Breyner Andresen

5 Pães e 2 Peixes

Muito haveria a dizer sobre 5 Pães e 2 Peixes que fizeram as delícias de uma semana.
Muito bons foram, sem dúvida, os momentos que vivemos no Centro de Dia com os idosos, na creche com o pequeninos, no porta-a-porta, nos encontros com os jovens e com os adultos, nos tempos de oração em comunidade. No entanto, sinto que nada seríamos sem o grupo. Sem as primeiras limpezas que nos "mostraram" um resultado do nosso serviço de uma forma instantânea. Nada seríamos sem os medos da primeira noite por causa dos bichinhos, dos insectos, das osgas. Nada seríamos sem as nossas brincadeiras com o Staff Nabais, na ajuda na cozinha. Nada seríamos sem criarmos músicas para toda e qualquer coisa nova. Nada seríamos sem aqueles que "cá de fora" nos ligavam, nos visitavam, rezavam por nós e connosco.  Nada seríamos sem o "nosso" alpendre, sem os nossos tempos de oração orientados. Nada seríamos sem o Amor de Deus. Nada seríamos se no final dos 5 Pães e 2 Peixes não recolhêssemos os pedaços.
Nada seremos quando deixar-mos de dizer "sim", quando nos fecharmos ao Mistério de Deus, quando esquecermos os pedaços da retribuição das cem vezes mais.
Nada seremos enquanto não fizermos como o Cireneu e partilharmos o caminho da cruz com Cristo que se entregou totalmente.
Nada seremos enquanto não dissermos como Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!"

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Passo a Passo'12


“O peregrino é aquele que, num determinado momento da vida, tempo de procura, de inquietação, de desejo e atracção, se põe a caminho em busca de uma nova verdade de si mesmo”
(D. José Policarpo)

Agora que já passaram uns dias desde o Passo a Passo, é altura de pôr por escrito aquilo em que meditei, aquilo que rezei, aquilo que me levou ao mais fundo de mim mesma.
Depois de partirmos, é importante que cada um perceba qual é o seu ritmo. O ritmo da descrição e da humildade é realmente o mais apropriado. Mais rápido ou mais lento importa que eu ame cada passo do meu caminho seja aqui ou noutro sítio qualquer. No meu ritmo importa que eu me mantenha eu e que cada passo seja tempo de procura, de inquietação, de desejo e de atracção. Estes passos não são simples passeios, são imagens da vida que caminha para Deus e por isso, para a plenitude da santidade.
Eu quero procurar este caminho de santidade com Deus em cada dia. Quero que cada passo seja uma resposta ou pelo menos algo que me leve a ter respostas. Respostas que sejam a verdade da minha vida.

“Verdade! Verdade! Quem sou eu para que me dês a tua verdade? Eu sou o que não sou. Pois a tua verdade é aquela que faz, fala e realiza todas as coisas, não eu!”
(Sta. Catarina de Sena)

O que me trouxe aqui?
A paragem. O precisar de parar para rebentar aquilo que têm sido as últimas semanas vividas em correria, sem ritmo, de forma insípida.
Buscar a paz para o meu espírito.

“Qualquer outro dom que se possua nesta vida é coisa vã como são vãs todas as coisas do mundo”
(Pier Giorgio Frassati)

“As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”...
“Segue-Me”
Que condições coloco a Deus quando Ele me desafia a segui-lo?
Sinto que as vezes que penso em desistir ou as vezes em que digo “é impossível”, “não sou capaz” são obstáculos à Sua vontade na minha vida.
Quantas vezes deixo que não se faça a Sua vontade por medo de encarar as coisas e, num sentido muito mais peregrino, quantas vezes seixo que não se faça a Sua vontade por medo de encarar as subidas, por medo das dores futuras causa dos abusos presentes?
Quando Deus nos chama à santidade convida-nos a recordar a nossa história pessoal e a nossa história com Ele. De volta ao silêncio lembro as vitórias, os erros transformados em lições, os amigos à luz da fé que são agora os fieis companheiros de viagem, os que, pela sua oração, estão aqui bem perto. Dou graças a Deus pelas maravilhas que Ele realiza na minha vida. Dou graças por estes milagres e pelas suas manifestações em mim.

“Aclamai o Senhor, terra inteira, servi ao Senhor com alegria”
(Salmo 100 (99))

Peregrinar leva-me a sentir que a luta é dura e que portanto é preciso que nos esforcemos por vencer a nossa pequena entrada em Damasco, para que possamos caminhar em direcção à Meta e ao Amor que é Cristo vivo nas nossas vidas.
Recebe-me, Senhor, a mim e aos meus passos mal dados. Às minhas caminhadas, às minhas subidas à montanha e às viagens ao mais fundo de mim. Recebe a minha miséria, a minha dor, a minha tristeza, ainda, a minha alegria, a minha esperança, o meu júbilo. Recebe o meu amor, as vezes em que só tento amar. Recebe o meu tempo e as minhas pressas e correrias.
Recebe-me e acolhe-me para que me faça e seja cada vez mais em Ti.

quarta-feira, 20 de junho de 2012



"Todos os dias penso deitar-me às dez e deito-me à uma. Primeiro vejo os mails, depois o Facebook, depois as notícias, depois não sei quê, e quando dou por mim, já passaram duas horas!".
 "É verdade! Às vezes chega a doer, aquele simples gesto de desligar o computador".
Certa vez, no café pós-almoço, estavam falar disto de andar sempre a arrastar a hora de dormir, a querer fazer mais qualquer coisa, e o formador atalhou a conversa e disparou: "o problema é o vazio afectivo".  Aquilo deixou-me atordoado; nunca ouvira falar em tal coisa; mas, com o tempo, reconheci que tinha razão: fazemos braço de ferro com o sono porque precisamos de preencher o vazio afectivo que vai cá dentro. E tentamo-nos encher com isto e mais aquilo. Mas há um momento em que temos que dizer: basta!".
Outro entrou na conversa: "eu também tenho feito esse exercício de deitar mais cedo: até já pus um alarme no computador: às 23 horas o computador bloqueia. Só posso continuar se meter a password". E disse ainda, quando já se levantava para ir embora - "o pormenor decisivo é que a password é "Jesus é o Senhor". Assim sinto-me suficientemente confrontado: se estiver a fazer uma coisa realmente importante, continuo. Se não, ponto final, parágrafo: vou-me deitar!".

Quais são as passwords da nossa vida?

“Com a cara encostada ao vidro, vejo a minha respiração condensar-se. Há casas pequenas lá em baixo, e campos, e um bosque, e um rio, talvez. Algumas almofadas de nuvens na distância. O ruído dos motores é constante, mas a música que oiço esconde-o.

Posso imaginar, vista do chão, a paisagem que sobrevoo. Tenho histórias para cada uma daquelas pessoas que moram em cada uma daquelas casas. Há mil passeios para dar naqueles campos, naqueles bosques. Mas a verdade é que vou para mais longe, onde a paisagem será diferente.

Penso em viajar como a forma mais irónica de descobrir a que sítio chamar «casa». É preciso pôr mil, dois mil, dez mil quilómetros entre mim e esse sítio para perceber onde ele fica. É preciso falar todas as outras línguas para perceber que a língua que falo é aquela que diz as coisas que eu sou.

Por isso todo o caminho é de regresso. Porque esse é o único movimento possível — onde quer que se regresse.

Acende-se a luz do cinto de segurança. Há alguma agitação e alguma turbulência. Começamos a descer, passamos por dentro de uma nuvem. A paisagem aproxima-se lentamente.

Começa a viagem.”


Qual é o tipo de aterragem que praticamos na nossa vida?

Comecemos por aterrar no amor...
Coloquemos diante de nós o Deus Amor.
Todos entendemos a linguagem do amor, todos sabemos o que significa dizer “Amo-te com todo o coração”. O coração de Deus é um coração aberto, exposto, um coração que se derrama, é o coração do nosso Senhor. Diante de nós o Seu tesouro não se contém e despe-se, entrega-se, procura-nos, ama-nos sem medida.
É assim que Deus nos ama, totalmente, absolutamente, sem nenhuma reserva nem nenhum cálculo. É Deus, é assim o Seu amor e a Sua ternura. Hoje, vamos deixar-nos embalar, mimar pelo Senhor. Ele está ansioso por nos trazer nos braços, por nos atrair a Si, por nos pegar ao colo. Façamo-nos crianças, levantemos os nossos braços, o Amor inclina-se para nos pegar.

Imaginemos a rebentação das ondas nas rochas...  "Um coração inquieto protege-se do mar com pedras grandes e pontiagudas; e o resultado são estas explosões de espuma e água que causam estrondo". "Um coração em paz não é assim. Um coração em paz é como uma praia. Sabe que o mar é muito maior em extensão, profundidade e comprimento; acolhe as ondas de braços abertos; aceita tudo o que trazem e tudo o que levam. Um coração saudável é aquele que se deixa moldar pela vida". 

Evangelho
Jesus caminha sobre as águas (Mateus 14)

Convívios Lx (19 de Junho 2012)




Preparar este encontro deu-me a bagagem de rezá-lo várias vezes. De meditá-lo. De sublinhá-lo e de insistir nas cores. Deu-me a bagagem de rezar a minha vida à luz das várias perspectivas que vou tendo e descobrindo do mesmo assunto.
É preciso que eu reze a minha vida, que me distancie e me procure. Que reserve passwords especiais na minha vida e que saiba usá-las na hora oportuna. Que tenha a coragem de viajar e encontrar outros lugares aos quais chamar "casa". Porque se eu só amar o que conheço, o que está próximo e me deixa confortável nada faço de extraordinário.
Vivo no meu "vazio" cheio afectivo a tentar constantemente encher-me com mais isto e mais aquilo e esqueço que é preciso falar todas as outras línguas para perceber que a língua que falo é aquela que diz as coisas que eu sou.
Que tipo de aterragem pratico na minha vida? Como aterro? Dispo-me, entrego-me, procuro e amo sem medida?
Antes tenho um coração inquieto, que se protege do mar com pedras grandes e o resultado são explosões de espuma que causam estrondo. Eu quero ser absolutamente e sem reserva nem cálculo. Quero ser um coração de paz e saber que o mar é muito maior em extensão e profundidade e aceitar tudo o que trazem e o que levam. Ser um coração saudável que se deixa moldar pela vida.
E, em todo este processo, que a password seja "Jesus é o Senhor", é Aquele por quem me deixo embalar e mimar, pegar ao colo e inclinar-se para me dar de comer.

domingo, 17 de junho de 2012


Chega o final de mais um semestre... O final do segundo ano de faculdade. Diz a Joana a propósito de cenas e coisas que não é altura de pensar "nisso" em "véspera de época de exames". Tem razão, mas é difícil não pensar... Chegado o fim de mais um semestre é altura de balanços. E o balanço deste semestre/ano é difícil de constatar, de pensar, de sentir. Foi difícil aperceber-me daquilo que sempre ouvi dizer e que eu não queria realmente confirmar... Não queria confirmar que na minha vida pessoal não há espaço para grande parte das pessoas da vida académica, porque é difícil confiar, confiar-lhes... É mais fácil que continue a "haver uma linha que separa" as "duas vidas"... Está a ser um final de ano difícil de engolir por causa destas merdas, que vêm chatear, desconcertar e desconcentrar... E, realmente, como diz a Joana, não é altura para se pensar nisto, mas é preciso que me queira debruçar sobre isto e pensar sobre isto e abrir os olhos para isto...O resto do balanço virá com os resultados finais, foi um ano mais calmo que o primeiro, pelo menos até agora. Pelo menos sinto-me menos frustrada que no final do ano passado, onde houve stress, chatices e muitas lágrimas por ninharias. Quero serenar, quero aprender a fazer e fazer uma coisa que até aqui não tenho feito muito bem, que não soube fazer, que não esclareci comigo própria, que noutros sítios é "canja" e aqui... coiso! Quero saber amar aqui e poder olhar com amor quando as minhas mãos pegam num lápis e desenham e projectam, pegam num x-acto e em cola e fazem maquetes, pegam nos resultados finais e estão confiantes no trabalho final e no quanto se esforçaram... A firmeza não tem de ser só na fé. A firmeza pode e sinto que deve partir da fé, mas se não se manifestar no meu eu (que não tenho encontrado) e nas minhas acções diárias, algo está incoerente... Algo não sou eu...

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Estão a ver quando ao início me perdia em Lisboa (muito mais do que agora)??

Pronto, é isso, mas de outra perspectiva...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Upgrades e Firewall's - O perigo da instalação

O ser humano tem muita dificuldade em abrir-se ao que é novo. É frequente responder com soluções velhas aos problemas novos. É mais fácil ficar nas esquinas da vida. É, portanto, cairmos na instalação. Na instalação de uma falsa alegria. De uma alegria superficial e barulhenta. É fácil ficarmos sem nos perguntarmos a nós próprios se, alguma vez, fomos felizes e se, alguma vez fizémos alguém feliz.É fácil que a nossa alegria dique só na pequena publicidade dos não crentes.
Até que ponto desperdiçamos a alegria porque não a sabemos reconhecer? Até que ponto, como dizia um amigo, deixamos o "programa" sem upgrades, sem acompanhar a evolução e as novas versões deixam de ser compatíveis com o sistema e torna-se necessário fazer um reset? 
O olhar do coração ensina-nos a recolher os pedaços da alegria. Testemunhar a alegria é partilhá-la. Dizia o místico Thomas Merton que "a melhor maneira de conservar a alegria é dá-la". Este é o grande segredo dos crentes.
Na fé, progredir é dar cada vez mais lugar a Deus na minha vida. Ter esta atitude de desinstalação, de abandono. Ter a atitude de mendigo, de que tudo o que tenho e sou é esmola de Deus, De um Deus apaixonado por mim e pela minha verdade. É reconhecer que sou pó e que ao pó hei-de voltar, como nos é descrito no livro dos Génesis e, portanto, reconhecer que aquele "Deuzinho" que eu crio à minha medida é de facto o Criador, algo bem maior que eu. Ele é o Deus das surpresas!!
"Há tempo para chorar e tempo para rir" e tudo nasce dos horizontes da vida.
É urgente que descubramos quais são os motivos, as cenas e as coisas, nomeadamente, TODAS que nos fazem alegrar. É importante percebermos que devemos ligar os nossos firewall's e possibilitarmos a desinstalação, possibilitarmos o abandono nas mãos de Deus, a confiança na providência. É importante que a alegria brilhe no nosso rosto e que nos leve à procura da sensação de paz, que nos leve a procurar o gozo de gozar alguma coisa no coração.
Será que já nos questionámos sobre quais são para nós, para o eu individual, os presentes mais felizes? São aqueles de que estamos à espera ou aqueles que nos deixam desarmados? Para mim, a resposta é "muito inconfundível", se antes era uma pessoa a quem as surpresas não diziam grande coisa, agora abro-me a esta experiência, a este agradável mistério. Abro-me à experiência de correr atrás da alegria e de a encontrar nas pequenas coisas e, de uma forma, bem saborosa. Bem ao sabor e ao ritmo de Deus. Abro-me à experiência do olhar disperto para alcançar a fonte da alegria. 
Eu não quero ser uma Marta que não sabe alegrar-se, quero partir do limiar perceptivo da união com Deus que é orientar a minha vida apartir do Seu amor. Por este amor eu sei que sou querida, que, de uma forma clara e certa, estou no mundo e existo, que sou a filha predilecta e que em mim o Pai também pôs e põe em cada dia todo o Seu agrado, todo o Seu enlevo e alegria. Esta é uma mensagem que chega a todos os filhos, a todos os filhos predilectos de Deus. Deus não ama em série, sabe apenas contar até um. Cada um de nós é único e especial para Ele. Assim, Ele ama-nos com tudo e desde sempre. 
E nós podemos chamar-lhe "tudo" ou, simplesmente, resumirmos a uma palavra: Abba ("Paizinho"); e vivermos esta alegria divina dupla do Pai que se alegra com o Filho e do Filho que se alegra com o Pai. Assim, vive-se na alegria crente do "ESTAR". Como Santo Agostinho nos dizia "amar, querer e crer". Tudo isto implica disponibilidade e, mais importante, fidelidade, mesmo no vazio, mesmo no deserto, mesmo na aridez. Vejamos o exemplo dos místicos, nunca na noite escura disseram "já chega!", antes se mantinham "candidatos ao paraíso", na sua "escura, luminosa noite" a velar a espera do Senhor.
Também nós somos estes "candidatos ao paraíso" e fazemos a cada dia a escolha decidida de apostar tudo n'Ele, de Lhe confiar.
Mas este segredo só eu e Deus é que conhecemos. 
Aqui é tudo, junto de Deus.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Metro da Felicidade





Pode ser um bcado inútil, mas gosto de ler o "Alfaiate Lisboeta" e ontem fiz um grande like :)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Astrónomo e a brisa da noite

“Eu sei que Tu estás aí!” - Gritou de novo o astrónomo, sozinho, no meio da noite. O frio entrava-lhe pelas mangas, o pescoço doía-lhe de tanto olhar para o céu. “Deus, eu sei que Tu estás aí. Dá-me um sinal da Tua presença”. Mas mais uma vez ninguém respondeu.
- Sei que Tu estás aí, Deus Antigo, Deus Imenso - sussurrou o astrónomo. Sei que Te moves devagarinho enquanto as estrelas avançam, lentamente, pela noite. Sei que estendes os Teus braços por milhões de anos-luz até às galáxias distantes. Sei que és muito grande e que brincas com Saturno quando o escondes no horizonte. Sei que no Teu jardim plantas constelações feitas de estrelas. Sei da lágrima que choras em cada estrela cadente. Sei que Tu és Antigo, mais Antigo que a própria Terra. Mais Antigo que esta terra que piso e em que um dia hei-de morrer. Eu sei, mas dá-me um sinal da Tua presença.
Esperou. Mas mais uma vez ninguém respondeu. Durante cem noites o astrónomo subira a esta colina. Durante cem noites esperara ansiosamente um sinal, um sinal por mais pequeno que fosse de que estava certo e de que os seus colegas estavam errados. De que ele estava certo quando dizia haver um Deus maior que tudo. Que eles estavam errados quando diziam que era tudo fantasia sua. Que ele estava certo quando dizia que havia um Criador. Que eles estavam errados quando lhe respondiam com fórmulas matemáticas e com teorias de uma explosão inicial que tudo explicaria. E quando se riam na sua cara. E quando o tratavam como cientista de segunda. Agora, pela última vez, voltava-se para cima e pedia um sinal. Nem pedia um sinal para eles. Pedia apenas um sinal para si, um sinal que lhe permitisse dormir em paz, apesar das gargalhadas dos outros. Mas passaram-se cem dias e cem noites e o sinal não veio. Desistiu. Abandonou-se à brisa, a mesma brisa suave e fria que soprava desde a primeira noite e que tantas vezes o irritara por não o deixar concentrar-se.
- Olá -disse uma voz jovem e descontraída.
- Boa noite. - Disse o astrónomo surpreendido. - Não te vi. Como chegaste aqui sem que te sentisse? Perdeste alguma ovelha?
- Estava a ver é que te perdia a ti. -Respondeu a voz, a sorrir. -Cem vezes pediste um sinal. Cem vezes te toquei com a minha brisa. Creio que hoje te preparavas para não voltar.
- Senhor, Meu Deus! Sois Vós? O Altíssimo? O Deus Antigo? O Deus Imenso?
- Bem, se me preferes chamar assim...
- Senhor, Altíssimo, Tu não devias estar lá em cima nos céus? Não é lá que Tu moras? O que estás a fazer aqui?
- Onde eu moro não brilham estrelas, a não ser quando o coração de algum homem se converte ao amor. Nem há constelações, a não ser quando dois ou mais se reúnem em Meu nome. Moro onde tu moras. Compreendes?
-Tu moras onde eu moro?! Eu moro numa casa tão pequena e Tu és tão grande!
- Só é grande quem se encaixa no pequeno por amor.
- Sempre pensei que moravas no céu e que por isso o céu era tão grande. Sabes, às vezes ficava horas e horas sem fim a olhar a imensidão das estrelas e a pensar em Ti. - Eu sei. Eu vi-te quando te comoveste, encostado à figueira, a olhar o céu. Fiquei com vontade de te contar tudo, sobretudo de te dizer isto: O universo não é a minha casa. É a tua. É a casa que Eu criei para ti e para todos os homens. Sabes, às vezes os pais montam casas para os filhos...
- Mas então porque é tão grande o universo? A nós chegavam-nos umas quantas montanhas e outras tantas planícies...
-Sim, se calhar tens razão. Talvez tenha exagerado. Sabes como é, uma pessoa quando é Deus pensa nos homens e entusiasma-se... Pegamos em papel e lápis e desenhamos o Sol e a Terra, um à frente do outro. “Terão a Terra para habitar e o Sol para os aquecer”, pensamos. Fica bem, mas ainda está tudo muito parado. Pensamos então em pôr a Terra a rodar à volta do Sol para haver anos e darem pelo tempo passar. E pomo-la a rodar sobre si mesma para haver dias e noites e poderem recomeçar a vida de novo cada manhã. E já agora inclinamos um pouco o eixo para poder haver estações, e sementeiras e colheitas no tempo certo, e festas. A Terra até fica bem assim -um belo planeta para os homens! - e resolvemos então pôr mais planetas à volta do Sol. Todos diferentes, uns maiores, outros mais pequenos, um com anéis, outro com satélites. Quando damos por ela já vai em nove e resolvemos que chega. De facto de dia chega, mas de noite achamos tudo bastante escuro. Os homens, de noite, morrerão de tédio, pensamos. Começamos então a desenhar estrelas e mais estrelas. Primeiro uma pessoa pensa em pô-las todas alinhadas. Depois começa-se a desarrumar tudo e a fazer constelações. Será bem mais divertido para os homens olhar um céu assim... Começamos com uma constelação, e já agora outra ali mais ao lado, e quando damos por ela já vamos em milhões de galáxias a milhões de milhões de anos-luz. E já agora umas nebulosas, e já agora uns cometas de vez em quando para que fique tudo mais emocionante, e já agora a Lua, para que o mar tenha marés-cheias e marés vazias e eles tenham semanas e ao sábado se possam apaixonar.
-Tenho uma pergunta, Senhor. É uma pergunta um pouco embaraçosa. Os meus colegas dizem que Tu não criaste nada. Que tudo aconteceu numa grande explosão, há muitos milhões de milhões de milhões de anos.
- Bem, imagina que Eu decidi criar através de uma explosão...? Não posso criar da maneira que achar melhor? Também as árvores nascem devagarinho das sementes, isso eles entendem. Entendem que a árvore já lá está toda naquela semente pequena que o tempo irá regar. Eu é que não entendo os teus colegas. Se houve uma explosão, alguma coisa tinha de existir primeiro para que depois houvesse explosão, não é? Os homens, quando descobrem as leis do universo, sentem-se tão contentes que se esquecem de que para haver leis foi preciso que eu inventasse essas leis. Esquecem-se de que para que alguém possa descobrir, alguém antes teve de criar.
- Desculpa-me o atrevimento, Senhor, de Te fazer tantas perguntas, agora que Te tenho aqui à mão... Mas então a Bíblia? Não diz que Tu fizeste tudo em sete dias? Eles dizem que um universo assim nem em sete milhões de anos.
- Os homens esqueceram a poesia. E sem poesia não entendem quando Eu falo. Esqueceram que sete quer dizer plenitude. A plenitude do Meu amor. É isso. É só isso que precisam de saber, para depois poderem olhar pelos telescópios e não se perderem. A Bíblia não diz como criei, diz que criei tudo para vocês, por amor. E explica como é que podem usar de tudo com amor e serem felizes. A Bíblia não é um manual de fabrico, é uma espécie de manual de instruções, percebes?
- Mas então Tu não te importas que nós olhemos o céu com telescópios? E que depois vamos para casa fazer contas e escrever livros de ciência? E depois, se calhar, que nos metamos numas naves para ir ver mais de perto...
- Quero que amem a casa que vos dei. Quero que a contemplem e conheçam. Há nela recantos que ainda nem sonham que existem. Quero que usem a inteligência que vos dei e que os vossos filhos saibam mais que vocês, e que os filhos deles saibam mais que eles. Só tenho pena é que ainda saibam tão pouco.
- Não são segredos a mais? Por que é que não dizes logo tudo de uma vez? Poupavas-nos tanto tempo!
- Sim, Eu podia dizer tudo de uma vez. Podia até escrever uma legenda no céu com letras de raios laser a dizer que o autor sou Eu e que escusassem de pensar mais. Poupava-vos muito trabalho e conseguiria que todos me adorassem. Mas tirava-vos a liberdade e sem liberdade não há amor. Prefiro que me descubram pelo amor. Detestaria que me adorassem à força. Percebes isto?
- Mas, Senhor, assim há sempre quem se esqueça de Ti.
- Como é que Tu, sendo tão grande, Te sujeitas a isso?
- Maior grandeza é não se impor. Amar somente, escondido no brilho dos astros, na escuridão da noite, no soprar da brisa. Chamar sem forçar. Falar ao coração daquele que olha o universo, como quem sussurra, e esperar que me deseje. Como tu, nestes cem dias, nestas cem noites em que me abriste o teu coração e eu te desejei e tu me desejaste até quase não poderes mais.
“Deixei-Te até quase não poder mais”, concordou o astrónomo, no cimo da colina. Quando abriu os olhos não viu ninguém. Sentiu apenas a brisa da noite que lhe tocava a cara. Mas agora já não tinha frio.

“O Príncipe e a Lavadeira” (Pe. Nuno Tovar Lemos SJ.)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Do bloquinho...

"Senhor, perdoa as vezes em que eu basto a mim própria, em que o meu olhar é tudo, em que eu sou tudo no meu olhar. Em que não existe o irmão ao meu lado, em que Tu não existes no meu coração, em que a minha autosuficiência toma posse e o egoísmo tem sempre a palavra maior. Perdoa as vezes em que esqueo as coisas importantes por viver no meu mundo de horizontes curtos...
Obrigado por Te manifestares nos testemunhos dos outros... Na presença constante destes que caminham comigo, que tornam o meu caminhar sustentado, na presença destes outros que são sicómoros da minha vida.
Obrigado por os cumulares de graças."

[29 de Nov 2011]


"Dou-Te graças pelo dom da vida.
Da vida em nós, da vida dos que nos rodeiam e das vidas novas.
Dou-Te graças pelas famílias. Pelo dom das famílias. Pelo bom que é sentir esse amor que brota e é incondicional, pelas chatices que às vezes fortalecem e pelas famílias em construção e em constante renovação do Teu amor. Pelo Teu amor vivido nos nossos lares, nos nossos dia-a-dias e nas nossas amizades que são provas vivas de que existes e Te reunes no meio de nós."

[2 de Dez 2011]


"Muitas vezes caímos o erro de que o "eu" prevalece sobre tudo. E, quando não estamos bem com este "eu", dificilmente, estaremos bem com o "nós"...
Quando o "eu" se insere no "nós" o que acontece, inevitavelmente, é que o "nós" prevalece. E prevalece porque este "nós" são os nossos irmãos em Cristo, são os que entram na nossa vida e a transformam, constatemente."

[5 de Dez 2011]


"Hoje, aqui em casa, Deus trabalhou no turno da noite... Depois de um fim-de-semana meio estranho, eis que chega o domingo à noite e dou graças e louvo o Senhor pelas maravilhas que concede à minha vida. Por cada um de vós que é sustento para mim. Hoje, entrego as vezes que tenho vacilado, as vezes em que nem só Deus me basta, em que eu, os meus caprichos, os meus outros eus, bastam a mim mesma...
Hoje, Ele trabalhou no turno da noite, veio mostrar-me como é bom "embebedar-me" de luz e ser portadora desta luz no mundo...
Hoje, Ele operou na escurisão de forma a transformar os meus medos..."

[11 de Dez 2011]


"Em História da Arquitectura Clássica e Medieval víamos, como um triclinium, antiga sala de cerim+onia das domus mais ricas se transformavam dando origem num período paleo-cristão, posterior, ao local de culto, em sentido muito figurado eram uma "reencarnação da Última Ceia".
Todos os dias remos na nossa vida reencarnações da Última Ceia. Naturalmente, quando nos sentamos à mesa, damos graças e partilhamos a refeição. Cristo não se torna o pão, mas faz-se presente entre nós e na minha atitude humana, assemelho-me a Judas. Àquele que trai, que O nega. É, eu passo a vida a negá-Lo nas várias "reencarnações" que a Última Ceia assume na minha vida e em todos os outros aspectos.
Queria poder arrancar de mim esta mentira que é, esta mentira que sou e que transforma em cacos a minha frágil inteireza.
Livra-me de mim..."

[5 de Jan 2012]


"Perdoa Senhor, os passoas vacilantes do meu dia, o meu desamor, a falta de empenho, a preguiça. Perdoa estas faltas que não tenho forma de mascarar...
Ensina-me a abandonar-me em Ti, ensina-me a responder "Sim" e a levar o Teu convite de amor aos que me rodeiam, ensina-me a buscar-Te em caa minuto e a fazer do meu corpo e do meu coração Tua morada."

[8 de Jan 2012]

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Citando um grande amigo: "uma coisa que não faz falta à minha alma é espaço. Espaço vazio que sempre tentei encher, preencher, sobrelotar até transbordar!"
Eu também tenho este "espaço vazio", se pensarmos todos o temos, aquilo que fazemos com ele e como o destinamos é que varia.
Hoje dei comigo a pensar o que faço eu com o meu espaço vazio. Naturalmente, encho-o. No entanto, encho-o com aquilo que me esvazia e me torna um coração duro, de pedra. Encho-o com a arrogância e a autosuficiência do dia-a-dia, aquela que diz "não preciso disto para nada!", "não sinto falta disto ou daquilo! porque simplesmente não me deixa feliz".
Pensei o que seria isto do ser feliz... Se faço esta escolha todos os dias, se caminho para ela, não era suposto que essa escolha fosse pensada e meditada segundo "padrões" de felicidade que, admitamos, ser o olhar de Deus?
Às vezes não me sinto nada coerente, nem me sinto a dar passos no sentido da coerência.
Entrego-Te o meu dia, o que fiz para Ti e os passos que recuei perante o Teu amor.

[3Jan2012]

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Super Heróis

Esta manhã estava a pensar o quanto somos super heróis na vida uns dos outros. Mesmo sem querer, mesmo sem nos apercebermos de como o fazemos, mesmo sem que se apercebam que o fazemos.
E depois pensei que raio poderia ser o super poder de cada um. Conclui que o super poder é o mesmo, mas em cada um à sua medida. Temos o poder de sermos nós próprios sem desculpas nem alcunhas que nos mascarem. O nosso super poder é sermos nós com as coisas boas e com as limitações, os medos, as angústias, com aquilo que é próprio de cada um. E mesmo na nossa perfeição imperfeita transformamos a vida dos outros, em sentido ultra figurado, somos super heróis que escutam e falam quando chega a sua vez, que podem apenas estar, que presenciam os silêncios, abraçam e sorriem.
Não me sinto a viver num mundo de faz de conta. Sinto-me a viver num mundo onde existe dor e em que, constantemente, cravo os dedos nas feridas e as sinto abertas. No entanto, posso assegurar que a minha vida é cheia de super heróis, cada um na sua medida, mas todos a transformam e eu, na minha humildade, ponho os pés ao caminho e as mãos ao serviço para que também a vida dos outros seja repleta de super poder.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A experiência de ir aqui escrevendo ajuda-me a ordenar e a consciencializar aquilo que sou, aquilo em que acredio, na pessoa que me tornei... Ajuda-me a tomar consciência de uma forma meditada e rezada do mundo que me rodeia e do outro, o meu irmão, aquele que se faz presente nos vários momentos da minha vida.
Neste "outro" torno cada vez mais presente o amor que nutro por ele e o quanto me sinto amada, tornando este amor, oração constante.
Ao pensar neste amor, rostos chegam à minha memória e levam-me a algo a que eu chamo plenitude. A plenitude do amor em Cristo. Com Ele, n'Ele e para Ele.
"Mulher, eis o teu filho", "Filho, eis a tua mãe". Nestes rostos tenho presente as várias "mães", aquelas que me dão bons motivos para sorrir, todas me dão bons motivos para louvar a Deus.
Nestes rostos, tenho, ainda, presente os meus vários "pais", aqueles que me "emprestam" o seu caminhar mais firme, que me mostram o seu pecado sem a vergonha que mostrou Adão ("Estava nu, tive medo e escondi-me"). Estes "pais" mostram o exemplo de como o pecado também nos leva mais longe, de como o pecado nos pode levar a um amadurecimento próprio muito mais profundo.
A experiência de ir aqui escrevendo leva-me a partilhar este amor que opera em cada um de nós.
Em muitos anos eu senti-me amada e querida por esta família que me acolhe, que me tem proporcionado grandes aventuras e desafios, que me leva a dizer "Sim" a cada novo dia, como Maria o fez.
Faça-se em mim, Senhor, e no coração de cada um, segundo a Tua palavra.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Queria ter encontrado uma foto que representasse todo este ano que passou. Queria ter encontrado algo que representasse todas as lutas interiores e reflectisse o amor que nutro de cada momento.
Nesta altura, faço o balanço do ano que passou. Recordo o que foi bom e menos bom e recordo os rostos que foram cruzando, os que ficam e continuam, e vejo a felicidade espelhada deste amor em Cristo. Este amor que nos une e nos fortifica.
Sem grandes 'balanços' recordo palavras, abraços, gestos que marcaram, caminhos e passos bem firmes que além de se fixarem aos trilhos se fixam no coração de cada um...
Aqui estão os meus MIP's, aqui sinto a preserverança, a confiança, "Isto" que nos mantém seguros e que nos faz avançar juntos. Como reflectia ontem à noite, obrigado por todos juntos sermos um só conTigo, em Ti e para Ti.

Por sermos assim.
Com amor vos agradeço. Afinal, como alguém dizia "nós só devemos agradecer aquilo que não merecemos".