segunda-feira, 25 de julho de 2011

As três plenitudes



"Os leitores já percebram, certamente, uma das minhas obcessões: o medo de que uma grande parte dos seres humanos esteja vazia de alma, seja gente incompleta, espantalhos de homem, seres por terminar, ou mesmo, por construir. Julgo que não exagero: alta percentagem de pessoas ficaram a meio caminho, pensaram que já estavam realizadas e dedicaram-se a vegetar, sem descobrir sequer que a sua alma era um tonel semi-vazio. Realmente no mundo há bastante menos “homens” do que as estatísticas registam: ficaram a meio, presos à sua adolescência, como uma fruta que nunca chega a amadurecer.
Ultimamente, porém, juntei a esta uma outra preocupação: os que estão cheios, para que serve a sua plenitude? O que fazem dela?
Esta preocupação começou a surgir no dia em que, lendo S. Alberto Magno, encontrei uma expressão terrivelmente reveladora. Diz o santo que existem três géneros de plenitude: “a plenitude do vaso, que retém e não dá; a do canal, que dá e não retém; e a da fonte, que cria, retém e dá”. Que tremenda verdade!
Conheço muitos homens-vaso. São aqueles que se dedicam a armazenar virtudes ou ciências, que têm tudo, coleccionam títulos, sabem tudo quanto se pode saber, mas julgam que cumpriram a sua missão ao encherem o seu depósito: não repartem sabedoria nem alegria. Têm, mas não partilham. Retêm, mas não dão. São magníficos, mas magnificamente estéreis. São simples servos do seu egoísmo.
Conheço também homens-canal: são aqueles que se gastam em palavras, passam a vida fazendo coisas e mais coisas, que nunca aprofundam o que sabem, que tudo o que entra pelos ouvidos deixam sair pela boca sem pousar no coração. São aqueles que padecem de neurose da acção, têm de fazer muitas coisas e todas depressa, julgam servir os outros, mas o seu seviço é, na verdade, uma maneira de acalmar as alfinetadas da alma. Homens-canal são muito jornalistas, alguns apóstolos, sacerdotes ou leigos. Dão e não retêm. E, depois de dar, ficam vazios.
Como é dificil, ao contrário, encontrar homens-fonte, pessoas que dão daquilo que é a vida da sua alma, que repartem como as chamas, acendendo a do vizinho sem diminuir a própria, porque recriam tudo o que vivem e compartilham tudo o que recriam. Dão sem se esvaziar, regam sem diminuir, oferecem a sua água sem secar. Cristo – penso – foi assim. Ele era a fonte que brota inextinguível, água que mata a sede para a vida eterna. Nós – quem dera – já nos daríamos por felizes se fôssemos uns simples fiozinhos escorrendo do alto da grande montanha da vida..."

Jornal Balada da União Maio/Junho


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Água viva


"A sede é mais do que a ausência de água. É algo que não é experimentado pelas pedras, mas apenas pelos seres vivos, que precisam da água para viver. Qual dos dois sabe mais acerca da água viva, a pessoa que abre a torneira todos os dias sem pensar grandemente no assunto, ou o viajante do deserto, torturado pela sede que busca uma fonte de água"

[Vem, sê minha luz]
Madre Teresa


sábado, 2 de julho de 2011

Catedral de Pedra Oca


Um rei queria construir um templo e por isso pediu aos seus subditos que sugerissem qual o melhor material para a edificação do templo. Apareceram sete candidatos, mas apenas seis sugestões. Entre granito, mármore, cimento armado, prata, ouro, surge aquele que chega de mãos vazias e diz "Senhor, eis-me aqui!". Surge aquele que se entrega como pedra viva no templo do Senhor. Aquele que edifica a sua casa sobre a rocha, aquele que sente o "Fica connosco"...
Na Vigília de Oração onde escutei, uma vez mais, esta parábola da pedra para a construção de um templo, quis retirar-me da agitação e da desorientação da semana que passou, quis parar para me encontrar com o meu maior Amigo, quis agradecer-lhe por estar comigo sempre, mas no decorrer da Vigília, cheguei a pensar "Bolas! Não chega um ano de arquitectura, um semestre de materiais, uma semana deprimente e, até aqui, só se fala em granitos, mármores, argamassas... Uf!!" No entanto, esta Argamassa não se enquadra nas categorias de argamassa que deveria estudar. Esta Argamassa é sobretudo salvífica, é sobretudo sal da terra e luz do mundo. É Argamassa que une cada pedra do templo... É Ele que une cada um de nós...
Após uma partilha bem sincera, percebi que não tinha sido fácil compor o cenário da Vigília. O cenário equilibrava a cruz de S. Damião em pedregulhos e à volta havia pedras mais pequenas, areia e velas. Não tinha sido fácil equilibrar as pedras umas nas outras, não tinha sido fácil mantê-las constantes. Houve, talvez, a necessidade de procurar várias posições para que se equilibrassem. Não somos nós também assim? Pedras a tentar moldar-nos às situações quotidianas, a adaptar a nossa posição de forma a ficarmos mais confortáveis? A grande questão é que devemos sair cada vez mais de nós próprios e sermos cada vez mais os "serventes", as pedras vivas da obra de Cristo!! Devemos estar dispostos a dizer-Lhe a cada dia "Senhor, eis-me aqui! Portanto, faz de mim o que quiseres..."

Obrigado, por estares sempre comigo. Obrigado por seres o meu Maior Amigo :)