quarta-feira, 16 de junho de 2010

Viajar

Partindo da perspectiva exposta no excerto abaixo transcrito, apresente uma reflexão sobre a viagem como possibilidade de descoberta do outro e, também, de si mesmo.

«Apoderou-se de mim uma fúria de viajar. Mas acima de tudo queria voltar à Grécia, que foi para mim o deslumbramento inteiro e puro e onde me senti livre e com asas.»
Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena


A viagem possibilita a descoberta do outro e a descoberta de si próprio. Ao descobrir o outro é possível ainda a descoberta de nós próprios, do que somos para o outro, uma vez que, cada outro tem uma parte de nós. Podemos, ainda, experimentar a perspectiva deste "outro" ser o mundo e tudo o que nele se enquadra e, desta forma, é, facilmente, possivel apoderar-se de nós "uma fúria de viajar", para que nos sintamos livre e "com asas".
Qualquer que seja o meio em que a viagem exerce, quer seja no outro ou em nós, viajar é como outrar-nos para descobrir, é como sair do nosso corpo para experimentar um "deslumbramento inteiro e puro".
Qualquer viagem implica disponibilidade. Essencialmente, disponibilidade interior. Quando a viagem se destina à descoberta do "eu", implica estar disponível para questionar e para dar resposta às próprias interrogações, implica abrir o coração e deixar-se tocar pelo mundo exterior, deixar-se envolver, deixar-se transformar. Mas nem sempre estamos dispostos a dar-nos a conhecer a nós próprios. Quantas vezes utilizamos o espelho como simples adereço, apenas para verificarmos o reflexo da nossa aparência? Um espelho pode mostrar-nos muito mais que isso. A forma como interpretamos, uma observação cuidada do nosso reflexo num espelho, pode dizer muito acerca de nós! É tantas vezes mais fácil viajar de outra forma... É tão mais fácil pegar num mochila e ir descobrir o mundo, sentir-se livre das questões interiores e do próprio eu...
No entanto, viajar é isso. Seja qual for o destino, viajar é abrir asas e voar, porque "quem cria mil olhos para nada" não pula nem avança, porque "quem cria mil olhos para nada" não vive, apenas sobrevive.

Liliana Nabais, Exame Nacional Português 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

"Mais vale perder um minuto com um amigo, do que perder o minutos e os amigos" - À conversa com o espelho...

«Vejo-me reflectida. Vejo numa reflexão da incerteza, vejo a influência. Vejo muito do que não queria ver. No entanto, apesar de tudo, vejo um rosto, anda que preocupado, alegre e um pouco derrotado. Gostaria de pter a certeza que este reflexo que vejo não sou eu, porque não gosto do que vejo...

Quando ris, porque ris? Quando choras, porque choras? Para seres tu? Para seres autêntica? Então, porque não "despes" esse teu reflexo, essa tua máscara estúpida onte te escondes e não deixas brilhar mais vezes esse teu sorriso, ou não deixas que mais vezes sequem as tuas lágrimas? Porque baixas os braços e te resignas, quando tantas outras vezes dás conselhos para que os que estão à tua volta não o façam? Porque não te habituas a ser um bocadinho de ti de cada vez, para em breve seres toda tu para o mundo? Faz o que te digo. Limpa essa preocupação do rosto, fecha essa porta ao passado. Veste um novo sorriso e sai para a rua. Feliz.

Acredito em mim quando sou algo de bom para o mundo, mas sei que, frequentemente, minto a mim própria tentando não encarar as respostas que não quero, mas preciso, de escutar. Acredito que possa fazer a diferença na vida de outras pessoas, pois se assim não fosse não teria aqueles a quem posso chamar amigos. No entanto, são tantas as vezes em que oprimo o que sou, que chego a rejeitar este "acreditar" como forma de fuga a mim própria. Porquê? Não sei. Só sei que queria ser diferente. Queria ser especial.

Sem medo... Quebrava as regras! Ou talvez não fizesse nada... Sem medo não havia, verdadeiramente, uma barreira ou um obstáculo por que tivesse de saltar e lutar para atingir um objectivo. Se para chegar ao objectivo final, não se cruzassem "pedras" no meu caminho, não era necessário nenhum esforço e chegar ao fim não teria aquele sabor a vitória. Aí a vitória seria como a água. Sem cheiro, sem sabor, sem cor. Sem medo, a vida pintava-se de preto e branco e teria um espírito derrotista porque não haveria vitória. O medo faz falta, porque faz parte da vida. Todos os conceitos têm algo de palpável, senão não existiam. O medo é como a perfeição, existe no dicionário, não se toca, mas sente-se... Acredito em momentos perfeitos, ainda que sejam meros contos de fadas ou pura magia, mas o medo posso senti-lo na pele, quando tremo ou me preocupo ou roo as unhas em sinal de nervosismo, isso é o meu medo. Esse é o medo que sinto. De não ser completamente eu, de não arriscar, de estar sozinha, ou simplesmente de partir sem ter sido especial e sem ter feito diferença.»


Liliana Nabais