quinta-feira, 24 de maio de 2012

Upgrades e Firewall's - O perigo da instalação

O ser humano tem muita dificuldade em abrir-se ao que é novo. É frequente responder com soluções velhas aos problemas novos. É mais fácil ficar nas esquinas da vida. É, portanto, cairmos na instalação. Na instalação de uma falsa alegria. De uma alegria superficial e barulhenta. É fácil ficarmos sem nos perguntarmos a nós próprios se, alguma vez, fomos felizes e se, alguma vez fizémos alguém feliz.É fácil que a nossa alegria dique só na pequena publicidade dos não crentes.
Até que ponto desperdiçamos a alegria porque não a sabemos reconhecer? Até que ponto, como dizia um amigo, deixamos o "programa" sem upgrades, sem acompanhar a evolução e as novas versões deixam de ser compatíveis com o sistema e torna-se necessário fazer um reset? 
O olhar do coração ensina-nos a recolher os pedaços da alegria. Testemunhar a alegria é partilhá-la. Dizia o místico Thomas Merton que "a melhor maneira de conservar a alegria é dá-la". Este é o grande segredo dos crentes.
Na fé, progredir é dar cada vez mais lugar a Deus na minha vida. Ter esta atitude de desinstalação, de abandono. Ter a atitude de mendigo, de que tudo o que tenho e sou é esmola de Deus, De um Deus apaixonado por mim e pela minha verdade. É reconhecer que sou pó e que ao pó hei-de voltar, como nos é descrito no livro dos Génesis e, portanto, reconhecer que aquele "Deuzinho" que eu crio à minha medida é de facto o Criador, algo bem maior que eu. Ele é o Deus das surpresas!!
"Há tempo para chorar e tempo para rir" e tudo nasce dos horizontes da vida.
É urgente que descubramos quais são os motivos, as cenas e as coisas, nomeadamente, TODAS que nos fazem alegrar. É importante percebermos que devemos ligar os nossos firewall's e possibilitarmos a desinstalação, possibilitarmos o abandono nas mãos de Deus, a confiança na providência. É importante que a alegria brilhe no nosso rosto e que nos leve à procura da sensação de paz, que nos leve a procurar o gozo de gozar alguma coisa no coração.
Será que já nos questionámos sobre quais são para nós, para o eu individual, os presentes mais felizes? São aqueles de que estamos à espera ou aqueles que nos deixam desarmados? Para mim, a resposta é "muito inconfundível", se antes era uma pessoa a quem as surpresas não diziam grande coisa, agora abro-me a esta experiência, a este agradável mistério. Abro-me à experiência de correr atrás da alegria e de a encontrar nas pequenas coisas e, de uma forma, bem saborosa. Bem ao sabor e ao ritmo de Deus. Abro-me à experiência do olhar disperto para alcançar a fonte da alegria. 
Eu não quero ser uma Marta que não sabe alegrar-se, quero partir do limiar perceptivo da união com Deus que é orientar a minha vida apartir do Seu amor. Por este amor eu sei que sou querida, que, de uma forma clara e certa, estou no mundo e existo, que sou a filha predilecta e que em mim o Pai também pôs e põe em cada dia todo o Seu agrado, todo o Seu enlevo e alegria. Esta é uma mensagem que chega a todos os filhos, a todos os filhos predilectos de Deus. Deus não ama em série, sabe apenas contar até um. Cada um de nós é único e especial para Ele. Assim, Ele ama-nos com tudo e desde sempre. 
E nós podemos chamar-lhe "tudo" ou, simplesmente, resumirmos a uma palavra: Abba ("Paizinho"); e vivermos esta alegria divina dupla do Pai que se alegra com o Filho e do Filho que se alegra com o Pai. Assim, vive-se na alegria crente do "ESTAR". Como Santo Agostinho nos dizia "amar, querer e crer". Tudo isto implica disponibilidade e, mais importante, fidelidade, mesmo no vazio, mesmo no deserto, mesmo na aridez. Vejamos o exemplo dos místicos, nunca na noite escura disseram "já chega!", antes se mantinham "candidatos ao paraíso", na sua "escura, luminosa noite" a velar a espera do Senhor.
Também nós somos estes "candidatos ao paraíso" e fazemos a cada dia a escolha decidida de apostar tudo n'Ele, de Lhe confiar.
Mas este segredo só eu e Deus é que conhecemos. 
Aqui é tudo, junto de Deus.

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