quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Peregrinação "Ad Intra"



"Peregrinar não é simplesmente caminhar ou passear, apreciando a paisagem ao sabor das circunstâncias e correntes. Peregrinar implica, antes de mais, partir, sair de si e das suas circunstâncias, de algum modo desgarrar-se e separar-se para poder andar. Mas não basta: o peregrino tem um objectivo, uma meta a alcançar. Sabe de antemão aonde quer chegar e, por isso mesmo, apesar de aberto ao imprevisto e à aventura, procura conhecer, pesando as circunstâncias e as forças, qual é para si o itinerário, o caminho mais adequado. O peregrino espera, portanto, chegar à meta, ao termo e é essa esperança de lá chegar que o faz andar e, apesar do cansaço, não o deixa desfalecer."
Pe. António Vaz Pinto, SJ

Esta peregrinação Passo a Passo teve este sabor ao partir de mim própria, com uma meta de ir mais ao fundo, ao fundo das questões em mim mesma e com um itinerário de oração sempre presente, interior e exteriormente na natureza, na paisagem, no outro que caminha ao meu lado.
Este caminho físico que já se torna habitual peregrinarmos faz lembrar, realmente, o caminhar por caminhos desertos com o olhar no alto, no Pai e caminhar de braços abertos como que a absorver tudo, a deixar-nos encher e apaixonar por cada passo que deixamos os nossos pés de barro pisar com amor.
Interiormente, este caminhar levou quase à oração do despojamento do que sou e de quem sou e "aqui me tens, Senhor...", "enquanto quiseres, como quiseres...". E isto, leva, essencialmente, ao primeiro passo: "O que me trouxe aqui?". É sempre cedo para responder a esta questão, mas com certeza foi porque Deus me quis, que eu ali estava a caminhar, a tentar levar este ritmo e esta ordenação de espaços e de momentos para a minha rotina e vida quotidiana.
"O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça", nós Homens ao caminharmos juntos apercebemo-nos de tantos que caminham a nosso lado, apercebemo-nos da presença do outro, na sua sombra, na mão estendida para nos apoiar, para não nos deixar cair. No silêncio de alguns passos, quando entramos profundamente em nós vimos quais são os nossos "tudo menos isso" e às vezes é preciso distanciarmo-nos dos nossos "tudos" para perceber qual é afinal o lugar central das nossas vidas ou como queremos que esse lugar seja ocupado.
Fazer este caminho pela terceira vez levou-me a perceber dois grandes momentos. Em primeiro, as minhas limitações, os meus "tudo menos isso" que me impedem de ser santa, de ser o pecador em busca do melhor de si mesmo. E um segundo momento, o momento de dar graças pela vida e pela existência, pelas dificuldades tal como elas são, com as subidas, os obstáculos, os desiquilíbrios e perceber que existe em mim este "centro desviado" que é Cristo e a Sua vontade para a minha vida.
Entrar no Santuário de mãos dadas com os santos concretos da minha vida é agarrar Aquele que me dá vida e me renova todos os dias, é ter presente que mesmo nas minhas falhas, mesmo na minha vergonha, naquilo que há de mau em mim, há também uma nesga de esperança que continua a fazer caminho.
Este caminho que se trilha e esta descoberta que se faz de Deus no outro e Deus em mim que levo ao irmão e que o ajuda a caminhar ou o "peso" que sou na vida do outro é algo que tem de ter consequência prática na minha vida. É preciso haver este discernimento dos tempos e dos espaços e perceber que tudo brota duma relação com Deus que se alimenta na vida pessoal. A esta relação chamamos fé. E nada melhor que iniciar este ano da fé com um peregrinar com esta direcção e sentido, de nos unirmos mais ao nosso Pai e Criador. E é nesta liberdade humana de se fazer caminho ou não que vamos dando sentido ao sem sentido das nossas vidas.
Que neste ano da fé saibamos isto mesmo, dar sentido ao sem sentido, como o próprio Cristo deu sentido à cruz e à morte. É pela fé que nos salvamos, tenhamos a coragem de iniciar este processo de salvação e de santidade nas nossas vidas e saibamos acolher nos nossos corações Aquele que reinvidica ser o Filho do Homem.

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