domingo, 30 de janeiro de 2011

668

668. Quem é que nunca gravou um ficheiro no computador com um nome aleatório apenas por preguiça? É uma pergunta parva, sim é! Pessoalmente, faço-o imensas vezes e quando quero encontrar alguma coisa é o caos... No entanto, 668, não é exemplo de um título dado ao acaso. Nada é por acaso. [Ou quase nada...]

Passaram, exactamente, 668 dias. De quê? Digamos que... de várias primeiras impressões :)

Hoje, senti que devia fazer uma partilha especial. Especial para os que "de longe" me têm seguido, os que ganharam "a sua vez" na minha vida...

Decerto, já sentiram necessidade de uma preparação prévia para algo que sabemos que vai acontecer, algo que sabemos ser difícil. Muitas vezes, sinto isso, essa necessidade de me preparar, de me disponibilizar para a mudança que pode chegar, mesmo sem eu dar conta. E, tenho-me apercebido que também é necessária uma preparação, uma adaptação à realidade que deixámos...
Pode soar mal e/ou parecer estranho o que vou escrever a seguir, mas não sou capaz de vos negar ou de ocultar este facto. O que soa mal no meio de tudo é que eu gostei desta sensação de hoje. Quando cheguei, esperava-me uma casa vazia, silenciosa, sem a agitação das múltiplas perguntas habituais, sem a correria ou o mau humor ou as risadas de três companheiras, ou mesmo sem o aconchego da família. Normalmente, não gosto de estar sozinha. Afinal quem gosta? Mas hoje, soube mesmo bem chegar e não haver nada deste habitual... Soube bem poder ter a tal [re]adaptação ao que, no fundo, de alguma forma, deixei para trás...

"Não vivas no oitenta", disseram-me hoje. Sabem, tem sido difícil viver no cem cá e no cem lá e, ainda que não queira avaliar por bitolas humanas, não sinto que seja justo viver cinquenta/cinquenta, porque acabo por não me dar toda eu por completo. Ao viver no oitenta, a discrepância é ainda maior...

Eu gosto de paragens, gosto de balanços e confirmei que gosto do sol de inverno...

"Tu porém, quando orares, entra no teu quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai" (Mt 6, 6).

Dois dias, cumulados de graças, tenho dito.

Em comentário espontâneo, justifiquei o meu funcionamento muito por imagem, por aproximação de exemplos, por metáforas, como um "sintoma" de ter estudado artes. É importante aprofundar o olhar e conseguir aproximações costuma ajudar-me a estar atenta.

Como sabem, ando, constantemente, munida de uma "saca". Orgulhosamente, a minha saca :D Desde um caderninho onde faço apontamentos, desenhos, rascunhos a colheres de café, fitas métricas e tudo o que seja "necessário" na mala de um projecto de mulher, existe também uma carteira muito desarrumada... Há uns tempos, adoptei a máxima de "arrumar o palpável, para arrumar a vida", mas nem sempre é assim. E, como postei, anteriormente, a minha carteira conta uma história de crescimento, pessoalmente, muito interessante.
Dei comigo, ontem à tarde, durante uma hora de MPZero, a pensar o que poderia mudar na minha vida. Não, não! O que TENHO de mudar na minha vida. E, como já me disseram, até mais que uma vez, é que tenho de ser sensível à sensibilidade dos outros. Peguei por aí. Quero mudar essa insensibilidade.

Em Julho, numa Vígilia de Oração, foi-me entregue uma pedra. Esta simples pedra, escondia uma metáfora, os corações de pedra. O meu coração de pedra. Adivinhem onde guardei a pedra... Exacto, na minha carteira!
Ontem, foi necessário recorrer a essa pedra. Foi necessário revê-la e [re]tocá-la, aperceber-me que este coração, que apesar de ter sofrido transformações e de considerar que já abri algumas fenestrações, ainda se mantém frio, ainda se mantém de pedra.
Entre um sol tímido de inverno, um vento que teimava em despentear-me e umas nuvens que cobriam o fim de tarde, dei por mim, primeiro, estacionada a um canto, com um caderno aberto e algumas linhas escritas e, no momento seguinte, a vaguear de um lado para o outro, atenta à pedra que, agora, saltava nas minhas mãos, atirando-a uma e outra vez ao ar, repetidamente. Recorrendo, uma vez mais, a metáforas: Sendo esta pedra o meu coração endurecido, é isto que lhe faço? Brincar com ele? Correr o risco de o deixar cair? Acreditem, isto deteve-me... E lágrimas correram... E crepitaram, novamente naquele dia, as palavras de S. Paulo: "Quando sou fraco, então é que sou forte". Entre "fungadelas" percebi que não era isto que queria e, quando levantei o olhar, à minha frente, erguia-se uma oliveira. Aproximei-me. Por consequência da chuva recente, havia uma espécie de musgo escorregadio agarrado ao tronco. A casca da árvore, apesar da textura rugosa e do aspecto duro e como que impenetrável, quando apertado com força na mão fechada, partia, não triturava! Só partia. Não funcionará também assim com a insensibilidade? Ainda que ela não se reduza a pó, será que não se parte com esta facilidade? Com um pouco mais de abertura de coração? Com um pouco mais de amor e de humildade?

Esta experiência que, agora, junto ao meu "currículo" de experiências de Deus, foi muito... Táctil? Não sei se é bem a palavra que serve nesta situação.
Táctil, talvez, porque tenho aprendido muito com os gestos, porque adquiro, visualmente, este Amor, porque com gestos posso retribui-lo, porque pelos gestos torna-se mais fácil dar voz ao mais insurdecedor de mim...

E, hoje, é Domingo! Dia do Senhor portanto, dia de alegria! Pegando em pequenos pormenores, hoje, senti-me, realmente, alegre. Como primeiro pensamento do dia, ainda de olhos fechados e meio a dormir, surge: "No príncipio exitia o Verbo. O Verbo estava em Deus. O Verbo era Deus" e saio para o banho. Já acordada, com a consciência de um novo dia começado, abro a porta da casa de banho e canto "O Reino de Deus / É um Reino de Paz, Justiça e Alegria / Senhor, em nós vem abrir / As portas do Teu Reino". Entre a agitação das músicas, dos acordes na viola (que, desta vez, pareceram fluir mais e melhor), nos risos e nos sorrisos, chegou mais um MPZero e chegou o meu momento zen :P

Como dizia, já muito lá atrás, confirmei o meu gosto pelo sol de inverno. Desta vez, pedia-se, à luz da oração, um compromisso e uma avaliação. O alcatrão estava morno em consequência do tal sol que, hoje, dia da alegria, brilhava animado lá bem no alto. Pensei "Como me sabe bem este 'conforto' do sol" e, sem hesitar, deitei-me no chão e deixei-me ficar quase uma hora, mas não fiz silêncio... Talvez, houvesse demasiadas vozes a gritar dentro de mim. Talvez, hoje, não fosse dia de arrumações interiores. Em vez disso, cantei. Porque quem canta seus males espanta e reza duas vezes e mais outra coisa que agora não me lembro... Cantei vezes e vezes sem conta, as Pegadas na Areia. As pessoas à minha volta, não deixaram de passar, também não lhes passou despercebida a minha forma de oração. Afinal, o mundo não estava parado, eu é que decidira parar no mundo! E, hoje, nada me soube melhor que isso e que os abraços dos que amo.

Agora, dirigindo-me, directamente, a vós e vós sabeis quem sois... Admiro-vos. Oh, vocês sabem-no. É toda esta alegria que vos torna novos. É por toda esta vida e vivência que têm que não vos atribuem vinte e nove, trinta e dois, trinta e sete ou outros anos... Parecem-me e, talvez tenha sido a maioria das minhas primeiras impressões, uns autênticos miúdos. No bom sentido, claro! Porque sabem ser alegria e amor à luz de Cristo e no mundo dos Homens. Admiro-vos e, particularizando um pouco: a uma porque pode ser mil e uma pessoas e mantém-se autêntica; a outra porque é uma palerma tão inconfundível que pronto :D; a outra porque, apesar de pequenina, lhe reconheço um sentido de humanidade brutal; a outra que tem gostos um bocadinho diferentes dos meus, mas quando comparamos certos aspectos, somos iguais e também porque está a ficar palerma; a outro porque sabe os impropérios quase na sua totalidade de cor e salteado e de tudo faz uma piada; a outro por abraçar constatemente, pela energia e pelo ritmo; a outro porque quando se lhe dá uma viola para as mãos faz magia e é tão uou ver aquele brilho nos olhos; e a outro por ser guia, pelo apoio, pelo suporte, por ser, como li há dias, "ramo em flor"...

Se houvesse um medidor de amor, seria complicado, na medida em que vos amo sem medida e desculpem a redundância e a lamechiche, se calhar é mesmo demasiado Espírito Santo na água das Irmãs, mas é isto que sinto. Sinto-vos família.

Obrigado :')

3 comentários:

  1. E as lágrimas de alegria voltaram a cair e mais um tijolo deste muro que tenho em redor do meu coração caiu.

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  2. Viajar ... viajar para bem longe e para bem perto... viajar para pessoas que amo e que sinto saudade ...

    Caíram lágrimas por uma partilha tão genuína ... lágrimas da angústia, lágrimas de saudade, lágrimas de um aperto!

    Obrigado por seres quem és !
    Obrigado por estares tão Viva!

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  3. "Quando cheguei, esperava-me uma casa vazia, silenciosa, sem a agitação das múltiplas perguntas habituais, sem a correria ou o mau humor ou as risadas de três companheiras, ou mesmo sem o aconchego da família."
    Pode parecer estranho, mas uma das coisas que me mais me anima é o chegar a casa com ela vazia...[e eu gosto muito de pessoas!!! ;-)] A casa vazia, como está neste momento em que escrevo, transmite-me tranquilidade e permite-me viajar... foi muito bom viajar pelo teu post, minha amiga, quase que me teletransportava para aquela casa que tão importante é nas nossas histórias. e é realmente uma grande graça a nossa amizade... as tuas mensagens e miminhos são ânimo para os meus dias.
    Sabes que mais? Gosto de ti!
    um chuac dos bons...

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